quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Relato de Parto

19 e 20 de agosto de 2012.

Tudo correu bem nos exames de pré natal. Que bom, pois assim o parto poderia ser na Casa Angela, local que escolhi receber o Pedro. Uma casa de parto que nos acolheu com carinho e seriedade. Para ter um parto lá, a gestação tem que ser de baixíssimo risco, ou seja, você tem que estar dentro de vários pré requisitos. Felizmente deu tudo certo para nós e eu sabia que se precisasse, com certeza eles nos encaminhariam para a maternidade. Eu fiz o plano de parto e estava consciente do plano A, B e C. 

Consultas dia sim dia não para fazer cardiocoto nos últimos dias, exercícios na bola, desenho de mandala com minha querida doula Adri e o Mike cada vez mais ansioso para ver o rostinho do Pedro. Eu tinha contrações, mas as de Braxton Hicks, ou seja, não eram doloridas, mas já estavam trabalhando a dilatação do colo do útero. Estava com 40 semanas + 4 dias de gestação.

Até que no domingo, dia 19 de agosto, as contrações começaram a ficar doloridas. Fomos na consulta às 14:30 e já estava com 4 cm de dilatação. Mas as contrações ainda não estavam ritmadas, então voltamos para casa para fazer os últimos preparativos. Até que em algumas contrações, eu comecei a ter que mudar de posição para amenizar a dor. Os cheiros fortes começaram a me incomodar (cebola!). Achamos que era hora de ir para a Casa Angela. Minha mãe decidiu ir de última hora acompanhar também o trabalho de parto. 

Chegamos lá às 20 horas, as contrações estavam mais intensas e ritmadas. A Adri chegou às 21 horas, o cardiotoco estava de acordo, 4 cm de dilatação e colo médio. Início do trabalho de parto ativo!

Fomos para o quarto: levei velas, ipod com músicas e mais músicas de todos os gostos, biquíni para usar na banheira e chuveiro. Testei algumas posições na bola, ouvi mantras e a versão em chorinho das músicas dos Beatles e recebia massagem da Adri. Já eram 22 horas. 




Às 23 horas entrei na banheira, o que aliviou bastante a dor. As contrações ficaram com um intervalo maior entre elas, mas valia a pena ficar naquela água quentinha e confortante. A Dal me deu 2 pedaços de mamão. Eu não tinha fome alguma, mas sabia que era necessário me alimentar.



É engraçado como dá para reconhecer o toque das pessoas em você. A sensibilidade aumenta. O toque das mulheres (Adri e Dal) era suave, amenizava a dor. O toque do Mike eu sentia bem mais pesado, mas mesmo não querendo que ele me tocasse muito, era confortante saber que estava lá do meu lado para o que nós precisássemos.




À meia noite sugeriram que eu saísse da banheira, já estava com 7-8cm de dilatação. Eu não queria, aquela água quentinha realmente relaxava. Andei até o banheiro e fiquei no chuveiro. Primeiro, fazendo os exercícios na bola. Depois o Mike entrou comigo e me deu suporte. Depois voltei para o quarto para um novo cardiotoco. 8cm! Fiquei um pouco desanimada, pois já haviam passado 2 horas e a dilatação não aumentou o quanto eu gostaria. Eu queria que estivesse evoluindo bem, para terminar logo a dor e eu pudesse ter o meu pequeno em meus braços. 

A recomendação era para eu andar, mas eu mal dava 3 passos e vinha mais uma contração. Cheguei a muito custo até a sala de espera da Casa Angela, tinha um colchonete para mim. Tomei um pouco de canja. 



Recebi massagem da Adri, o Mike também estava por lá. A vontade era de ficar agachada, mas para o Pedro descer mais, a recomendação ainda era caminhar. Então, com muito esforço subi a rampa e a escada e cheguei até o salão do andar de cima. Lá tinha uma meia luz, colocaram um lençol no teto para eu me pendurar. A Adri e o Mike ficaram comigo lá, se revezando. Que dor, hein! Ficamos lá por uma hora mais ou menos. O Mike tinha ido cochilar um pouco. Ao descer as escadas, doía bastante. Minha mãe neste momento fez massagem em mim e seu toque me ajudou a suportar melhor. Com muito sacrifício, cheguei até a sala de trabalho de parto novamente. A banheira estava lá me esperando. A água quente é um alívio. 

Novamente saí da banheira porque era necessário fazer um novo cardiotoco. Também fizeram uma amnioscopia e meu líquido amniótico estava claro. Acredito que foi neste momento que pedi para o Mike pegar um caderno meu onde eu tinha escrito minha Despedida da barriga. Na verdade, as palavras eram direcionadas ao Pedro. 

Foram estas:

"É como se toda a minha vida (nestes 29 anos) eu me preparasse para ser mãe, para esta vivência sublime que está para acontecer. Procurei conhecer e respeitar o meu corpo, este incrível instrumento que tenho em mãos para passar as experiências terrenas. Busquei informações para poder compreender melhor a vida e toda energia que envolve o universo. Encontrei Deus, e sinto que faço parte de sua divindade.


Pedrinho, filho querido já tão amado, me sinto pronta para ser sua mãe. Vou ser sua companheira nesta jornada e procurarei superar minhas dificuldades para ser uma pessoa melhor para você e a nossa família. 
Desde já agradeço a maravilha que é estar grávida ainda mais de um filho que foi muito gentil e se conectou com o meu corpo com harmonia e respeito.

Já já você estará em meus braços e terá todo o meu suporte para realizar a sua missão.


Obrigada pela oportunidade."

Chamei o Pedro para este mundo.


A Dal sugeriu romper a bolsa para o trabalho de parto acelerar. Mas eu tinha idealizado o Pedro nascendo dentro da bolsa aminiótica, então recusei. Eram 6 da manhã e eu estava com 9 cm de dilatação. Eu olhava o céu clareando através da janela. Uma sensação de cansaço enorme invadia meu corpo. 

Em vários momentos do meu trabalho de parto senti uma grande admiração por todas as mulheres do mundo e nossas antepassadas que já passaram por isso. Foi uma experiência que exigiu de mim coragem, vontade e consciência. É um trabalho de parto mesmo, uma conexão sem igual com o corpo e a dor é intensa, mas representa somente uma parte de todo o processo. Faz você ficar presente e com certeza tudo isso é necessário (a natureza é sábia, mas ainda vou buscar alguma resposta racional para todo este processo, quem sabe encontro alguma), tanto para nós, mães, quanto para os nossos bebês. Acredito que seja o ápice da vida de uma mulher, rumo à uma das mudanças mais significativas da vida.

A esta altura do campeonato, eu não queria mais as minhas músicas, nem velas, nem roupas! 

Fui então para o vaso sanitário. Me senti melhor nesta posição sentada e a dilatação atingiu 10 cm e comecei a fase de transição. Fazia bastante força. Houve troca de turno e a Carol agora era a enfermeira obstetra responsável por nós. Ela foi quem nos acolheu na Casa Angela em nossa primeira visita e seria a pessoa que traria o Pedro neste mundo (assim eu esperava! Não queria que tivesse que trocar outro turno novamente!). 

Voltei para a banheira, o Mike fez vitaminha de açaí para mim. Precisava de energia e só ele sabe fazer a vitamina como eu adoro. Tomei bastante (quase um copo). 



Por volta das 8 da manhã, a Carol novamente sugeriu romper a bolsa e desta vez eu aceitei, pois iria acelerar o nascimento. Eu pedia para ser transferida para o hospital, pois não aguentava mais sentir dor e queria anestesia. Mas só de pensar no trajeto na ambulância, logo vinha outra contração e eu ia ficando lá mesmo. Hoje eu sei que muitas mulheres pedem isso e é sinal de que está chegando ao fim.  Comecei a fazer força dentro da água, mas não estava encontrando uma posição muito boa.



Então alguém trouxe o banquinho. Santo banquinho!!! Sentada era melhor para fazer força, me sentia mais confiante. Uma mão na barra e a outra agarrada no Mike. Foram muitas contrações de expulsão. Achei que iria ficar rouca de tanto gritar. O Mike brinca dizendo que perdeu uns 30% da audição. Cheguei até a questionar se eu não tinha força suficiente para o Pedro nascer. 

E as contrações continuavam indo e vindo, fortes. Cada contração eu fazia 3 forças bem intensas. Eu podia sentir a cabecinha do Pedro chegando. Mas a minha percepção é que não estava vindo (mas estava). Chamaram minha mãe para a sala, pois Pedro estava quase chegando. 

Até que finalmente a cabeça dele saiu, eu pedi para puxarem. Mas claro, ninguém fez isso. Outra contração e ele saiu na água com 1 volta do cordão umbilical em seu pescoço (nota para as pessoas que não sabem: este não é um indício para a cesárea). Eram 9:50 da manhã do dia 20 de agosto. 




Ele nasceu na água e logo veio para o meu colo. Demorou um pouco para chorar. Fez cocô (mecônio). Espirrou umas 3 vezes. O cordão parou de pulsar e o Mike cortou. Ele chorava de emoção e segundo ele, esta experiência é algo semelhante à perda, mas ao contrário. 

Saí da banheira e fui para a cama. O Pedro logo veio para o meu colo e já mamou. 



E ficou um tempão mamando. Depois disso, pesaram e mediram meu pequeno. 3,300 quilos e 48 cm de comprimento.



A placenta saiu enquanto eu amamentava. Tive 3 pontos superficiais e com certeza os exercícios com o Epi-no ajudaram. Não cheguei a praticar com 10 cm de diâmetro, mas tinha chegado nos 7-8 cm. 

Agradeci ao Mike por todo o apoio no pré e durante o parto. Ele foi super guerreiro. Corajoso como sempre. Topa tudo. 

Fiquei no quarto quase o dia todo, pois estava um pouco fraca e me alimentei de sopa, suco de maracujá e frutas. O Pedro nos encantava, de tão lindo e bonzinho. Recebemos algumas visitas. Na primeira noite do Pedro aqui na Terra, ele dormiu muito bem, entre o Mike e eu. No dia seguinte, o papai mais babão deste mundo deu o primeiro banho do nosso filho. Sempre com o auxílio e suporte necessários. 



Nós fomos muito bem tratados na Casa Angela. Um atendimento que eu  acredito que não encontraria em outro lugar. As profissionais acompanharam a gravidez, conhecem você pelo nome e o atendimento é exclusivo. A comida é caseira e muito saborosa. Todas as enfermeiras obstetras e técnicas de enfermagem cuidaram muito, mas muito bem de nós. Tudo é feito com profissionalismo e podemos sentir nitidamente carinho e zêlo pelo o que fazem. 

E agora, com quase 2 meses do Pedro em nossos braços, sei que todo este processo do parto (e pré parto também) foi importante para a mãe que sou hoje e para o bebê que o Pedro é hoje. Calmo, bonzinho e sorridente. Nós conseguimos passar segurança para ele, pois tivemos respaldo dos cursos de preparação para o parto e por ter suporte 24 horas na Casa Angela. Qualquer dúvida, não hesitamos em entrar em contato. É uma segurança importante na nossa vida. 

Segue o relato da Adri, nossa doula que contribuiu positivamente em todo o processo:

"Não tenho palavras para descrever a força e a coragem de Anamaria.
Foi daqueles partos "lição para a vida"! O pai Mike apoiou muito ela o tempo todo e a avó tambem pode assistir o nascimento. Foram dois turnos de obstetrizes na Casa Angela, TODAS, foram excepcionais no cuidado e delicadeza.

Praticamente esgotamos os recursos, banheira, chuveiro, vaso, bola, escada, lençol no teto, massagem, Yoga, Reiki, mas NENHUMA DROGA! Só o poder do corpo feminino e nossos HORMÔNIOS maravilhosos mesmo.

Me sinto muito grata pela oportunidade de presenciar esse milagre da natureza e do poder feminino!"

E o Pedro mama, mama muito. Tanto que era assim:


Com 20 dias estava assim:



Com 40 dias estava assim:


E hoje, com 59 dias, está assim:



E estamos apoiando às doulas e desejando que muitas mulheres possam ter uma doula acompanhando o seu parto. 



O processo da gravidez e maternidade está abrindo novos caminhos em minha vida. Há chamados que não podemos ignorar. E tudo isso tem tocado meu coração de forma intensa e estou me preparando para ajudar outras gestantes. Que muitas possam ter a sorte que eu tive em ter acesso ao parto humanizado. Demorei algumas semanas para processar a experiência e na verdade, ainda estou fazendo isso. O sentimento de superação é enorme e me sinto forte o suficiente para enfrentar situações difíceis que a vida poderá apresentar. 

Não foi só o Pedro que nasceu. Uma mãe nasceu. Um pai nasceu. Uma família nasceu. Avós nasceram. Tios e tias nasceram. E o Pedro com certeza veio trazer alegria e luz em nossas vidas. 

2 comentários:

  1. Coisa mais linda!!! Muito emocionante o relato. A coragem de vocês é inspiradora. Que continuem com muita saúde e com essa vontade de buscar sempre o bem estar de todos. Sinto-me orgulhoso e honrado de fazer parte da vida de vocês.

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  2. Pessoal, algumas pessoas estão dizendo que não está dando certo postar comentários aqui no blog. Não sei a razão. Postem os comentários no facebook! :)

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